quinta-feira, 30 de junho de 2016

Pedagogias do pluralismo e da luta contra o racismo e intolerância

Alexandre L'Omi L'Odò com as alunas Gessylene Leite de Oliveira (à esquerda) e Aldiene Ferreira da Silva (à direita) que defenderam o TCC sobre a Jurema Sagrada. 

Pedagogias do pluralismo e da luta contra o racismo e intolerância

Hoje, dia 30 de junho na faculdade UVA - Universidade Vale do Acaraú, no centro do Recife, foram defendidos três TCC’s - trabalhos de conclusão de curso de licenciatura em pedagogia sob a competente orientação da professora doutoranda Ana Carolina Coimbra.

Os trabalhos abordaram de forma muito bem construída questões ligadas as tradições de matrizes indígenas e africanas, numa perspectiva de fortalecimento da lei federal 11.645/08, que obriga o ensino da história da África, dos afro descendentes e indígenas nas escolas.

Fui convidado pela professora, para estar presente neste importante momento que marcou sua despedida da faculdade, já que ela partirá para aprofundamentos de seus estudos em um doutorado em Portugal, tratando de pesquisas ligadas aos indígenas do Nordeste de Pernambuco. Também, fui um dos entrevistados no trabalho de suas alunas que abordou a Jurema Sagrada, e por estes dois motivos jamais deixaria de estar presente neste momento que no meu ponto de vista se tornou histórico devido a sua importante representação na reversão dos valores acadêmicos perante a história dos negros e negras e indígenas. Este tipo de contribuição é muito valiosa, e merece ser celebrada.

Os trabalhos apresentados foram:

1 – Salve a Jurema Sagrada! Respeito à Diversidade Religiosa na Educação. Realizado pelas alunas Aldiene Ferreira da Silva, Aparecida Jéssica Ferreira da Silva e Gessylene Leite de Oliveira.

2 – Historicidade do Povo Kambiwá: Lutas e Resistência pela Identidade Étnica. Realizado pelas alunas Cineide Maria de Lima e Josélia Nascimento de Amorim da Silva.

3 – Histórias Africanas e Afro Brasileiras: Reconhecimento e Valorização para a Educação. Realizado pela aluna Elizabeth S. Cruz Oliveira.

A noite foi das mulheres. Elas, professoras agora formadas, vão dar caminho nas escolas a uma educação menos excludente e racista. Seus trabalhos apresentados de forma brilhante e com conteúdo muito válido, já indicam caminhos para um mestrado ou doutorado. Espero que elas sigam esta estrada, pois precisamos de muitos mais exemplos na pedagogia de combate ao currículo branco imposto pelo Estado.

Povo de terreiro, alunas e professora celebrando a vitória das defesas de TCC.

As análises (orientações estendidas) feitas pela professora mestra em educação Maria do Carmo Oliveira, e também pelo professor doutorando em história social Leandro Patrício enriqueceram a noite com aprofundadas colaborações aos trabalhos apresentados. Foi rica demais a troca de saberes. Presenciar noites raras assim para mim é sempre um prazer, já que na busco na luta também dos meus irmãos e irmãs energias para reforçar as minhas lutas, e assim foi.

O trabalho apresentado sobre a Jurema, trouxe importante contribuição para as propostas de aula sobre diversidade religiosa. Elas mostraram de forma firme o quão rica é esta religião e a sua contribuição social cosmológica. Elas contribuíram na laboriosa missão de contribuir para que a Jurema saia do ostracismo acadêmico ao qual foi colocada. Este TCC merece respeito!

A professora Ana Carolina está de parabéns por orientar trabalhos tão interessantes e importantes para todos e todas. Realmente a missão de formar pedagogas capacitadas foi executada com primazia.

Professora doutoranda Ana Carolina Coimbra. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

A UVA é uma instituição particular que tem grande presença de estudantes de fé “evangélica”. Já ouvi inúmeras críticas à práticas intolerantes destes e dessas que ali discriminavam as pessoas de outras religiões. Acredito que a noite hoje, serviu para mostrar o quão grande é a ignorância destes e destas. E que com informação e criticidade pode-se romper a barreira espinhosa do racismo e da intolerância.

A presença de membros das religiões de matriz africana e indígena (vestidos adequadamente e que também foram entrevistados), além da pertinente presença do índio Fulni-ô Boró e sua esposa, tornou a noite forte e cheia de axé e ciência. Encontros maravilhosos e ampliação de horizontes para nossos povos. Senti-me contemplado em tudo, afinal, comungar de dias como hoje nos faz ter esperança no futuro.

Parabéns professora Ana. Você mostrou e continuará mostrando para o que veio! Sua missão é grande e você tem competência para dar conta. Obrigado por estar junto na jornada da luta por direitos iguais e respeito à diversidade. Obrigado também pelo cocá e quaquí, adorei os presentes religiosos indígenas. Adorei também o aió que sua Alina indígena me deu. Farei meus rituais com ele. Salve a fumaça!

#JuremanaEscola
#EducaçãoAntiRacismo
#PedagogiadaLibertação

Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

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