quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Malunguinho, Negro Guerreiro/Divino de Pernambuco


A liberdade e a terra eram o sonho dos Malunguinhos. No século XIX, parte das terras localizadas em Olinda eram improdutivas, fator que desencadeou a luta pelo desenvolvimento agrário. Unidos pelos mesmos ideais, grupos de resistência como os canoeiros que transportavam água limpa para o centro da província se uniram a negros, índios e inúmeros refugiados. O quilombo sempre foi um local de agregação e tolerância, recebendo pessoas das mais diversas crenças e etnias.Pernambuco no século XIX viveu vários movimentos políticos. Da Revolução de Goiana, a Junta de Beberibe (1821), a Rebelião dos Romas (1829) e outros movimentos de libertação.Um dos movimentos de maior representatividade foi o dos negros do Quilombo de Malunguinho, quilombo "urbano ou semi-urbano", localizado nas terras conhecidas atualmente, como Engenho Utinga no município de Abreu e Lima, liderava outros quilombos da Mata Norte, tornando-se o principal centro estratégico de resistência.
Entre os anos de 1814 a 1837, implementaram varias ações contra o poder local constituído, naquele momento fragilizado pelos conflitos internos pelo poder e soberania.Os Malunguinhos desenvolveram técnicas de guerrilha, conhecidas até hoje, como os estrepes, espécie de lança, feita em madeira bem afiada, que enterradas em buracos escondidos na mata, continham os invasores dos quilombos, desenvolviam e organizavam ações de colaboração mutua com outros quilombos.
Enfrentado inúmeras adversidades, superioridade bélica e política dos colonizadores e do poder local, que protagonizam sangrentas batalhas contra os refugiados, estes homens e mulheres lutaram com dignidade para desenvolver a vida social e econômica negra da época.
Malunguinho Histórico - Malunguinho é o título dado aos líderes quilombolas pernambucanos que no século XIX fizeram ferver a capital na luta por seus direitos. O último Malunguinho que se tem registro é o João Batista, um dos maiores lideres da historia do quilombo, assassinado em emboscada cruel na cidade de Igarassú, chamada ainda na época de Maricota, ficando sua morte como marco crucial para a destruição total do Catucá em 18 setembro 1835.
Os relatos da existência dos quilombos do Catucá estão ainda hoje no Arquivo público estadual de Pernambuco, em manuscritos, jornais da época, documentos de terras, mapas e relatórios da polícia provinciana e documentos de todo o século XIX.

Malunguinho Divino - “Ele é preto, ele é bem pretinho, salve a coroa do Rei Malunguinho!”, esse cântico ainda soa nos terreiros de jurema nas localidades do Catucá. Vivo no imaginário religioso do nordeste, em especial no culto da Jurema Sagrada de Pernambuco, ele, ou eles, são conhecidos como Caboclo, Mestre e Exu.

O espaço do Catucá ainda é de Malunguinho, por existirem muitos cultos de Jurema nas localidades do quilombo, ele é conhecido até hoje como o Rei das Matas. É uma importante divindade neste culto, pois sua presença marca a abertura dos caminhos e a defesa da casa. Malunguinho ora estava em Olinda, ora era visto em Goiana, sendo estes aspectos difíceis de se entender, e justificados pela relação do Catucá com os segredos da fé negra e indígena. Assumindo o papel do mensageiro entre os mundos e o guardião, que continua até hoje na luta por liberdade, pois esta condição mesmo após morte é um eterno vir a ser, agregando novos Malungos para sua eterna guerra por direitos iguais para todos.

Alexandre L'Omi L'Odò
Salve Malunguinho!

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Bibliografia: Carvalho, Marcus J. M. de.
Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo. Recife, 1822 - 1850

*Acista a este vídeo referente a Malunguinho:
João Monteiro e L'Omi L'Odò no Sopa Diário discutindo sobre o tema na tv.
http://http//www.youtube.com/watch?v=QfAJG_JRPRI

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