terça-feira, 2 de dezembro de 2008

III Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá 2008, Unindo Nações!

III KIPUPA MALUNGUINHO, COCO NA MATA DO CATUCÁ 2008.
Unindo Nações!
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A tradição do Coco de Malunguinho, o Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá, na sua terceira edição, teve como principal novidade a participação de mais de 500 pessoas, entre sacerdotes e sacerdotisas da Jurema Sagrada e do Xangô pernambucano.Entidades como MNU (Movimento Negro Unificado), Rede de Negras, Negros e Afro LGBTT - RNAF/GGP, CEPIR/PE, Festa da Lavadeira, Ação Cultural, Rede Nacional de Matriz Africana dos Pontos de Cultura, INTECAB/PE, UFPE, UNICAP, Prefeituras de Abreu e Lima e Recife, além dos Mestres Griôs (os Kimbandas de Malunguinho) do Quilombo Cultural Malunguinho.
Reunindo um público diversificado, entre sacerdotes dos cultos afro, pesquisadores, artistas, produtores, estudantes e pessoas interessadas, o evento teve saída as 8h da manhã do Nascedouro de Peixinhos em Olinda, Pátio do Carmo no Recife (2 ônibus) e em Paulista. Seguindo o comboio de Malunguinho via as antigas Matas do Catucá, na mata norte do Estado.
Juntando também pessoas das comunidades e povoados adjacentes, com a intenção de provocar o raciocínio e o reconhecimento do espaço, para a partir da ação cultural ali desenvolvida, eles olharem o antigo Catucá como espaço de vida, história e força espiritual, contribuindo para o fortalecimento do movimento contra o desmatamento da localidade, que anda a paços largos. A comunidade ali existente começa a vislumbrar e discutir novos rumos e perspectivas, a partir da movimentação dos Juremeiros e Juremeiras que ali afirmaram com a religiosidade de matriz indígena, o valor e a importância de tal espaço. Jamais estas matas serão as mesmas para os que ali vivem e resistem como povoado que lutou pelas terras que hoje tem.

Iniciando as atividades do dia, como já é de tradição, iniciamos com as palestras e conversações sobre o contexto histórico e cultural do evento. O Professor e Historiador, mestrando em ciências da religião pela UNICAPE João Monteiro, iniciou falando sobre a resistência do Catucá e o Valor histórico de Malunguinho, pois o mesmo está realizando seu mestrado com o tema: Malunguinho, Inclusão Histórica e Divina.
Palestrando também sobre a questão da importância da preservação da mata, o nosso anfitrião e morador da região Juarez, o nosso guia dentro da mata. Daí as discussões ficaram por conta do Babalorixá Gil Holder de Ogun e Mãe Lúcia. O evento foi Coordenado por Alexandre L’Omi L’Odò que fez a apresentação dos palestrantes e contribuiu com a discussão de forma intensa.
No evento também foi o momento da gravação do documentário sobre Malunguinho, Histórico e Divino, pelos alunos da UNICAP, que estão finalizando o curso de jornalismo com o tema, (revelando nossa história de PE), os alunos João Júnior e Luiz entre outros coordenaram as gravações e o registro audiovisual do Kipupa.
Esteve presente também o documentarista Felipe Perez Calheiros, que também fotografou e realizou registros do evento, que também tem como pretensão, no futuro realizar um filme com o tema Malunguinho.Eduardo Melo (criador e produtor executivo da Festa da Lavadeira, Ação Cultural, o maior evento de cultura tradicional e popular do Brasil), impressionado com a força do evento, colocou-se disposto a somar conosco forças na luta pelo resgate de nossa história e auto-estima com a religião da Jurema e o imaginário que cerca os “brinquedos” do homem do nordeste e do povo de terreiro do Brasil.
A dita “Cultura Popular”, é uma expressão viva e dinâmica do imaginário do negro e índio no Brasil. É um desdobramento do conceito de vida destes povos. O coco, a Ciranda, os Maracatu, Afoxés, dentre dezenas de outros Brinquedos, denotam que estes elementos são princípios fundadores do que conhecemos hoje como cultura brasileira, musica brasileira e identidade brasileira no mais profundo sentido dos termos fundidor e fundador.

A cerimônia religiosa ficou na regência do Babalorixá e Mestre Juremeiro Sandro de Jucá e da Sacerdotisa Iyalorixá e Mestra Juremeira Mãe Lúcia de Oyá T’Ogùn, que dês da fundação da tradição do coco do Catucá, o I Kipupa Malunguinho em 2006 foram protagonistas deste ritual religioso à memória e espiritualidade dos Malunguinhos que alí estão nas matas e nas mesas de Jurema de todo Nordeste. Com a grande participação de diversos sacerdotes e sacerdotisas da Jurema Sagrada, o ritual ficou muito rico em loas e toadas (segmentos) de Jurema, que os mais de 200 Juremeiros e Juremeiras cantaram para saudar a união e a força espiritual que ali se fazia presente.

Vários foram os Mestres Juremeiros que vieram participar da cerimônia, Malunguinho (de Alexandre L’Omi L’Odò e outros), Zé Pretinho (de Ana de Oyá), o Grande Mestre Seu Curisco (de Mãe Lúcia de Oyá T’Ogùn), Mané Quebra-Pedra (de Beth de Oxum), Mestre buique (de Alexandre de Iyemojá), Zé da Hora, Mestre Caçador (de Ary Bantu), Mestre Zé Gaguinho (de Mãe Graça de Xangô), Mestre Manoel Maior, Mestre Pilão Deitado, Mestre Carlos, dentre muitos outros que não recordo-me agora. Foi tudo muito forte, e tanto as pessoas quanto a espiritualidade da Jurema Sagrada tiveram uma brilhante participação e ação afirmativa dentro da mata. Com as oferendas de fruta silvestres e litorâneas à Malunguinho, os Caboclos também foram muito saudados, pois Malunguinho também é caboclo, como expressa esta linda toada:
“Na mata tem um Caboclo
Todo vestido de pena
Este Caboclo é Malunguinho
Ele é Rei lá da Jurema
Na mata tem um Caboclo
Com uma preaca na mão
Esse Caboclo é Malunguinho
Não mexa com ele não”.
(da tradição da Jurema Sagrada de Pernambuco).

Após as cerimônias de entrada e louvação, adentrarmos a mata mais de 30 minutos a pé, chegando à clareira Cova da Onça, onde acontece a brincadeira. Todo brinquedo ficou por conta do Grande Mestre Galo Preto, comemorando 65 anos de coco e tradição no Brasil. Ao som da Embolada e do coco de roda, o evento na mata finalizou-se com o a cerimônia da alimentação coletiva. Com o já tradicional angu no dendê e a galinha também na iguaria, finalizamos o evento no lindo entardecer do Catucá às 17h.

O evento já está virando um marco de resistência, reafirmação, preservação e renovação dinâmica da tradição da Jurema no Estado, pois por ter um perfil único e exótico, atrai a cada ano mais pessoas interessadas na vivência e prática de suas próprias tradições que até então se encontravam adormecidas e desconhecidas pela ausência de informação.

O Kipupa Malunguinho é o povo de Terreiro olhando para seu universo, é o povo de terreiro unindo-se para construir novos rumos para a preservação e entendimento do que conhecemos como dia-a-dia da história viva de nossos antepassados que tanto lutaram para permitir que estivéssemos aqui hoje contando esta história.

Pelo olhar apurado e profissional da fotógrafa pernambucana e olindense Laila Santana, filha dos olhos da Oxum, coloco o resultado aqui do lindo registro realizado por ela. (Todas as fotos nesta matéria são de Laila Santana).

Agradecimentos especiais
Ao Deputadpo Estadual Isaltino Nascimento (PT), pelo grande apoio e consiceração dispensadas.A Jorge Arruda, Secretário executivo da CEPIR (Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Racial), E a todos os terreiros Participantes, em especial a casa de Mãe Tânia de Oxum pelo esforço desprendido.
Salve a Jurema Sagrada!
Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
173 Anos Resistindo!
alexandrelomilodo@hotmail.com

terça-feira, 14 de outubro de 2008

III Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá 2008


III Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá.
Tradição, cultura, discussão e Religiosidade em matas fechadas!

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O Quilombo Cultural Malunguinho, convida para o III Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá. Evento que leva para Matas fechadas do antigo Quilombo do Catucá (século XIX), o antigo Quilombo dos Malunguinhos, Palestras, Religiosidade da Jurema Sagrada e muito Coco de raiz, com os mestres e mestras de nossa cultura de tradição.

Informações gerais:

III Kipupa Malunguinho, Coco na Mata do Catucá.
Tradição, cultura, discussão e Religiosidade em matas fechadas!

Data: 26 de outubro de 2008
Local: Matas fechadas do Engenho Pitanga, Abreu e Lima – PE – Brasil
Horário: Saída as 7h da manhã.
Saída dos ônibus: Largo do Carmo, Avenida Dantas Barreto – Recife
Nascedouro de Peixinhos, AV. Brasília s/n, Peixinhos – Olinda
Contribuição: R$:10.00


Programação: Palestra às 9h Tema: Acais, uma perspectiva de preservação da história da Jurema Sagrada do Brasil, a Jurema como Religião Primaz do Brasil.
Recital de Poesias Negras 10h45min.
Cerimônia religiosa (Gira de Jurema na mata, com sacerdotisas e sacerdotes, e índios ) 11h30min.
Descida de mata à dentro: Coco com os mestres e mestras: Mestre Galo Preto (www.myspace.com/mestregalopreto), Dona Elisa do Coco, Índios de Jatobá (Sertão de PE) e sacerdotes e sacerdotisas da Jurema Sagrada. 12h30min.
Volta do coco e alimentação (continuação do coco no sítio).
Retorno 17h.

Trajes: Mulheres: Saia Cumprida (colorida ou branca) e blusa a gosto (em cores claras ou colorida).
Homens: Calça cumprida e camisa (coloridas ou brancas), chapéu se possível.

*Na ocasião estaremos realizando a filmagem do documentário sobre Malunguinho, e algumas pessoas podem ser solicitadas a dar entrevista.

O traje na cor preta não será aceito.

Leve seu pandeiro e seu axé!
Juremeiros levar suas “Gaitas”.
Tod@s podem Participar!


**Alimentação por conta do evento (comida típica da Jurema de Malunguinho).
*Leve sua água e seu lanche.

O *Kipupa Malunguinho, tradição criada em 2006 pelo Quilombo Cultural Malunguinho, com intenção de celebrar a memória do líder quilombola Malunguinho (em especial o João Batista, morto em 18 de setembro de 1835) em terras e matas de seu antigo quilombo O Catucá. Trazendo a representatividade das tradições culturais negras e indígenas brasileiras, o evento compõe uma experiência de troca de saberes e de contato com a sociedade e a religiosidade da Jurema Sagrada e o coco, com diversos artistas e mestres a realizarem o maior evento em matas fechadas do Brasil.

*(a palavra Kipupa, vem do tronco lingüístico do Kimbundo, uma das principais línguas faladas em Angola-África, e significa “agregação”, “união”, “coesão”, “encontro” de pessoas em prol de algum objetivo, que no nosso caso é a união e agregação de sacerdotes, artistas, acadêmicos, representantes políticos, estudantes e interessados para celebração e vivência, na memória, tradição e reflexão do papel do negro/índio na história e construção do país, reverenciando sempre a ancestralidade nossa).


Contatos e Produção: Alexandre L’Omi L’Odò e João Monteiro
Informações: + 55 81 8887.1496 9428.4898



Incrições:
quilombo.cultural.malunguinho@gmail.com
Blog: qcmalunguinho.blogspot.com
(enviar: nome completo, RG, entidade (terreiro) e contatos).
Vagas limitadas!




Realização:




quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Malunguinho, Negro Guerreiro/Divino de Pernambuco


A liberdade e a terra eram o sonho dos Malunguinhos. No século XIX, parte das terras localizadas em Olinda eram improdutivas, fator que desencadeou a luta pelo desenvolvimento agrário. Unidos pelos mesmos ideais, grupos de resistência como os canoeiros que transportavam água limpa para o centro da província se uniram a negros, índios e inúmeros refugiados. O quilombo sempre foi um local de agregação e tolerância, recebendo pessoas das mais diversas crenças e etnias.Pernambuco no século XIX viveu vários movimentos políticos. Da Revolução de Goiana, a Junta de Beberibe (1821), a Rebelião dos Romas (1829) e outros movimentos de libertação.Um dos movimentos de maior representatividade foi o dos negros do Quilombo de Malunguinho, quilombo "urbano ou semi-urbano", localizado nas terras conhecidas atualmente, como Engenho Utinga no município de Abreu e Lima, liderava outros quilombos da Mata Norte, tornando-se o principal centro estratégico de resistência.
Entre os anos de 1814 a 1837, implementaram varias ações contra o poder local constituído, naquele momento fragilizado pelos conflitos internos pelo poder e soberania.Os Malunguinhos desenvolveram técnicas de guerrilha, conhecidas até hoje, como os estrepes, espécie de lança, feita em madeira bem afiada, que enterradas em buracos escondidos na mata, continham os invasores dos quilombos, desenvolviam e organizavam ações de colaboração mutua com outros quilombos.
Enfrentado inúmeras adversidades, superioridade bélica e política dos colonizadores e do poder local, que protagonizam sangrentas batalhas contra os refugiados, estes homens e mulheres lutaram com dignidade para desenvolver a vida social e econômica negra da época.
Malunguinho Histórico - Malunguinho é o título dado aos líderes quilombolas pernambucanos que no século XIX fizeram ferver a capital na luta por seus direitos. O último Malunguinho que se tem registro é o João Batista, um dos maiores lideres da historia do quilombo, assassinado em emboscada cruel na cidade de Igarassú, chamada ainda na época de Maricota, ficando sua morte como marco crucial para a destruição total do Catucá em 18 setembro 1835.
Os relatos da existência dos quilombos do Catucá estão ainda hoje no Arquivo público estadual de Pernambuco, em manuscritos, jornais da época, documentos de terras, mapas e relatórios da polícia provinciana e documentos de todo o século XIX.

Malunguinho Divino - “Ele é preto, ele é bem pretinho, salve a coroa do Rei Malunguinho!”, esse cântico ainda soa nos terreiros de jurema nas localidades do Catucá. Vivo no imaginário religioso do nordeste, em especial no culto da Jurema Sagrada de Pernambuco, ele, ou eles, são conhecidos como Caboclo, Mestre e Exu.

O espaço do Catucá ainda é de Malunguinho, por existirem muitos cultos de Jurema nas localidades do quilombo, ele é conhecido até hoje como o Rei das Matas. É uma importante divindade neste culto, pois sua presença marca a abertura dos caminhos e a defesa da casa. Malunguinho ora estava em Olinda, ora era visto em Goiana, sendo estes aspectos difíceis de se entender, e justificados pela relação do Catucá com os segredos da fé negra e indígena. Assumindo o papel do mensageiro entre os mundos e o guardião, que continua até hoje na luta por liberdade, pois esta condição mesmo após morte é um eterno vir a ser, agregando novos Malungos para sua eterna guerra por direitos iguais para todos.

Alexandre L'Omi L'Odò
Salve Malunguinho!

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Bibliografia: Carvalho, Marcus J. M. de.
Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo. Recife, 1822 - 1850

*Acista a este vídeo referente a Malunguinho:
João Monteiro e L'Omi L'Odò no Sopa Diário discutindo sobre o tema na tv.
http://http//www.youtube.com/watch?v=QfAJG_JRPRI